Anuncie aqui!

Anuncie aqui!

terça-feira, 8 de abril de 2014

8 de abril é dia de relembrar o combate ao câncer

Confira, em entrevista com o oncologista Pedro Villar quais são os cânceres de maior incidência e os que mais matam no mundo, quais podem ser prevenidos e quais problemas são gerados pela crença de que essa doença significa uma “sentença de morte”.

iSaúde Bahia – Quais são os tipos de câncer que mais matam no Brasil e no mundo?
Dr. Pedro Villar – É importante aqui frisar que existe uma diferença muito grande entre o câncer que mata e os que são mais frequentes. Coincidentemente (e felizmente), o câncer mais comum nos brasileiros e no mundo é o menos mortal, que é o câncer de pele (182 mil casos por ano no Brasil). Mas é importante frisar também, por outro lado, que existe um tipo específico de câncer de pele, o melanoma, que é extremamente raro e é o mais mortal dos tumores, pois não há tratamento efetivo. Em seguida, os tumores de próstata (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil) são os mais comuns em incidência para 2014, de acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer). Diferentemente da incidência, o principal tipo de câncer quanto à mortalidade é o de pulmão, seguido por pâncreas e estômago. É importante destacar também que os mais comuns, próstata para homens e mama para mulheres, apresentam uma queda importante nos índices de mortalidade, pois são cada vez mais detectados precocemente, além de ter havido melhora importante no tratamento de ambos.
iSB – Quais tipos de câncer podem ser prevenidos e quais não podem? São maioria os primeiros ou os segundos?
Dr. Pedro Villar – Não há a menor dúvida de que a maioria dos cânceres pode ser prevenida ou detectada precocemente (com índices de cura de 90% para casos de câncer de mama no estádio clínico I, por exemplo). Destaco que o câncer de ovário e o câncer de pâncreas (que não são tão comuns) são dificilmente detectados precocemente e/ou prevenidos, vide o caso de Steve Jobs, que mesmo com toda a grana do mundo sucumbiu ao câncer de pâncreas. Segue abaixo um organograma simples dos principais tumores:
a) câncer de mama => quanto a ele, mesmo sem sintomas, a mulher deve realizar mamografia e ultrassonografia para detectar o mais precocemente possível.
b)  câncer de colo de útero => necessário realizar o preventivo (Papanicolau) anualmente, após início das relações sexuais (e faço a crítica de que, hoje, estão querendo empurrar uma vacina do HPV cuja eficácia não está totalmente provada, ao invés de fazer uma campanha em massa do Papanicolau, que é barato e eficaz).
c) câncer de pulmão => difícil prevenir, pois demora-se muito para ter sintomas, porque com um único pulmão saudável vivemos bem e, logo, quando o câncer surge em um pulmão, o outro compensa, não dando muitos sintomas. Porém, em pessoas tabagistas, a vigilância com um raio x de tórax (que é um exame barato) é suficiente para detecção de tumores.
d) câncer de próstata => após 50 anos, fazer toque de próstata (imprescindível) e o exame do PSA (exame de sangue específico para tumores de próstata).
e) câncer do cólon => acima de 50 anos, TODOS devem fazer colonoscopia. Quem tiver casos desse tipo de câncer na família, mesmo que não tenha sintomas, deve fazer o exame a partir dos 40 anos.
iSB – O aumento da expectativa de vida possui alguma relação com um aumento dos casos de câncer?
Dr. Pedro Villar – Sim, essa relação do aumento da expectativa de vida com uma maior incidência do câncer já está classicamente comprovada. Entretanto, a porcentagem de idosos com câncer não modificou-se muito e o que chama mais a atenção é o crescimento na incidência do câncer nas faixas etárias de 40 a 70 anos (o que, por outro lado, já inclui os idosos). O câncer pode ser causado de três formas basicamente: herdado dos pais (o câncer aparece em idades inferiores a 40 anos e não há o que fazer para prevenir, na maioria das vezes); fatores comportamentais, como tabagismo, dieta, alcoolismo e obesidade (nesse caso, atinge mais as faixas etárias de 40 a 70 anos); e o envelhecimento da célula (relacionado ao processo natural da morte do ser humano e ocorre acima dos 70 anos).
Finalizando, então, a idade tem influência no aparecimento do câncer e muitas vezes pode-se considerar natural (acima dos 90 anos, praticamente, todos os homens têm câncer de próstata e muitos morrem de outras doenças), mas o que chama mais a atenção são pessoas entre 40 e 70 anos com neoplasias malignas extremamente agressivas.
iSB – Baixas condições sócio-econômicas possuem alguma relação com uma maior incidência de câncer?
Dr. Pedro Villar – Sim, principalmente no aspecto da falta de informação e do baixo acesso a programas de prevenção. Citemos, como exemplo, o câncer de colo de útero, que praticamente está erradicado em países desenvolvidos. Este câncer tem relação com múltiplos parceiros, o não uso de preservativos, o início de vida sexual precoce e a não realização do preventivo (Papanicolau), algumas vezes por desconhecer o exame e outras vezes por falta de acesso à realização do mesmo. Todos os fatores relacionados anteriormente são característicos de condições sócio-econômicas baixas.
"...falta de educação, falta de condições sanitárias, falta de acesso ao sistema de saúde, tudo isso, junto com tabagismo e dieta inadequada, estão relacionados a alguns tipos de câncer."
Resumindo, falta de educação, falta de condições sanitárias, falta de acesso ao sistema de saúde, tudo isso, junto com tabagismo e dieta inadequada, estão relacionados a alguns tipos de câncer.
iSB – Pode comentar um pouco sobre a visão generalizada de que o câncer é uma sentença de morte? Quais problemas são gerados por esse tipo de crença?
Dr. Pedro Villar – Na minha opinião, essa é uma questão muito importante. A estigmatização do câncer causa problemas para as pessoas, profissionais de saúde e gestores de saúde, tanto no setor público quanto no privado. Vou fragmentar minha resposta por grupos supra-citados.
a) população => quando alguém sabe que tem o diagnóstico de câncer, seu micro ambiente é todo afetado, ele se considera morto ou que vai sofrer com o tratamento (o que não deixa de ser verdade), seus familiares sofrem antes do tempo, seus vizinhos evitam aproximar-se do “moribundo”. Assim, cria-se um medo imaginário que leva aos seguintes comportamentos: evita-se procurar o médico para prevenção, ao apresentar um sintoma; esconde-se da família; daí, ocorre uma baixa adesão aos tratamentos propostos por oncologistas e deixa de haver conversação aberta sobre uma doença que claramente pode ser curada, desde que diagnosticada em situações iniciais.
b) Profissionais da área de saúde => poucas faculdades do país têm a disciplina de oncologia como obrigatória (sendo que o câncer é a segunda causa de morte no mundo e, a partir de 2020, será a primeira, de acordo com a OMS). Logo, os profissionais de saúde pouco sabem e, consequentemente, aquele que devia orientar a população, mal sabe o caminho que deve seguir tanto para tratar quanto para prevenir. Um exemplo dessa fragilidade na formação é o fato de que muitos profissionais não orientam a realização da colonoscopia após os 50 anos de idade.
c) Gestores de saúde => historicamente, o Brasil deixou a saúde de lado e existem muitas lacunas a serem preenchidas para que a população tenha saúde como designa a definição plena da OMS (Organização Mundial da Saúde). Que gestor vai investir seus poucos recursos (e oncologia é uma área médica extremamente cara) em oncologia? Naturalmente, os gestores irão priorizar outras áreas, como obstetrícia, pediatria, vacinas, combate a dengue, tuberculose etc, pois elas têm resultados imediatos, enquanto a oncologia, por conta dessa crença do câncer ser uma “sentença de morte”, fica relegada a segundo plano. Na Bahia, por exemplo, temos um único hospital de câncer e só recentemente os hospitais privados investiram em oncologia.
iSB – Quais são as deficiências ou desafios encontrados pelo sistema público de saúde para fornecer um bom tratamento do câncer à população?
Dr. Pedro Villar – São muitos. Quero focar no sistema público da Bahia, principalmente, pois a oncologia, apesar de ter crescido muito no nosso estado, está longe do ideal. Dois são os principais problemas: pouquíssimos espaços para realização de medidas preventivas (tanto espaços hospitalares quanto espaços de educação) e poucos centros de tratamento. A oncologia é a área médica mais complexa, pois envolve múltiplos especialista (radioterapeutas, quimioterapeutas, cirurgiões, enfermeiras especializadas, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas etc) e a infra-estrutura é extremamente complexa e cara, exigindo muitos recursos do governo para uma unidade de oncologia adequada. Na minha opinião, devido aos parcos recursos na saúde, o sistema público deveria usar em atos de prevenção: colonoscopia, Papanicolau, mamografias, exames de próstata, combate ao tabagismo e ao etilismo, além de dar um foco na educação sobre o câncer para a população em geral e para os profissionais da saúde. Portanto, hoje, toda a atenção e recursos humanos e econômicos devem ser voltados à PREVENÇÃO e à DETECÇÃO DE CÂNCER INICIAL.
iSB – Pode comentar um pouco sobre a importância de haver uma data de conscientização como essa?
Dr. Pedro Villar – O câncer veio pra valer. Está atingindo todas as classes sociais, econômicas e políticas! A mídia colocou a doença nos holofotes! Hoje, felizmente, o assunto saiu da escuridão e é discutido em mesas de bares, escolas, igrejas etc. Jamais a ignorância sobre qualquer tema será benéfica a alguém. Vejo com bons olhos como a imprensa escrita, televisão e rádio tocam no assunto quase que diariamente. Creio que uma data como essa serve não só para jogar as cartas na mesa e tirar essa nuvem cinza da ignorância como serve também para lembrar as pessoas de fazer seus exames preventivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário