Ex-lateral da Seleção e do Real Madrid, atual técnico do Sivasspor comemora sua
nova fase e prega futebol bem jogado: 'Se começar a dar chutão, eu vou embora'
Aos 40 anos, Roberto Carlos pode se orgulhar e dizer que tem muita história para contar. Um dos maiores laterais da história do Brasil e do Real Madrid, ele ficou marcado para sempre no futebol por conta de seu jeito carismático e de sua famosa "bomba" no pé esquerdo. Um vencedor nato, tanto na vida, quanto no esporte. o ex-jogador pode se orgulhar de já ter atuado ao lado de craques como Ronaldo, Kaká, Ronaldinho, Rivaldo, Cafú, Zidane, Beckham, Raúl e Figo.
A convivência, dentro e fora de campo, com tantas estrelas foram relacionamentos que o ajudaram a amadurecer e desenvolver seu futebol. Atual técnico do Sivasspor, da Turquia, Roberto Carlos conversou com o repórter do "Esporte Espetacular" Thiago Asmar na fria cidade de Sivas, e o papo girou sobre arrependimentos, revelações e projetos. Confira abaixo os melhores momentos da entrevista.
A CARREIRA
Comecei no União São João em 88, e meu segundo clube foi o Palmeiras, de 93 a 95, período em que conquistamos dois Paulistas e dois Brasileiros. Depois fui para o Inter de Milão, onde fiquei um ano. Em 96, segui para o Real Madrid, onde fiquei 11 ou 12 temporadas. Aí veio o bom: Liga dos Campeões, Intercontinental, Ligas Espanholas... Na seleção brasileira foram 17 anos, com três Copas do Mundo, duas ou três Copas Américas e Copa das Confederações
FINAL DA COPA DE 2002
No dia da preleção, o Felipão fez a gente chorar demais. Em vez de colocar um vídeo de gols, colocou um com o povo brasileiro e as famílias falando. E o jogo era daqui a pouco. Então, foi uma choradeira na preleção, uma coisa absurda. Nós saímos da preleção e todo mundo começou a dar risada. Eu falei: "Em vez de motivar, ele está desmotivando". Mas não, aquilo deu uma moral danada para nós. São histórias para contar.
POLÊMICA DO RELÓGIO
Estávamos conversando sobre quanto cada um tinha ganho. E um perguntou: "Quanto você pagou no seu relógio de ouro?". Aí eu falei, dentro da concentração, como se fosse aqui, e essa notícia vazou para a imprensa. Porque essa pessoa era muito amiga de jornalistas, de um jornalista que me odiava. E aí começou essa confusão toda. É uma pessoa que eu gostava demais, sempre fui muito admirador do trabalho dele. Sempre gostei muito dele. Mas depois eu vendi o relógio, vendi carro, vendi tudo. Perdi toda a vontade de comprar, acabei vendendo tudo, porque isso para mim não é interessante, não é importante. Perdi a vontade, eu não tenho que ficar mostrando para os outros o que eu tenho.
O EPISÓDIO DO MEIÃO EM 2006
Falou-se em relação à meia, que é a maior babaquice. Desculpe até o termo. É a maior mentira que existe no mundo do futebol, apenas para buscar um culpado. Gente, eu não posso saltar com o cara. Eu não deveria nem estar ali. Eu tinha que estar lá na frente para o contra-ataque. Mas vamos achar um escravo, um responsável pela derrota do Brasil no vigésimo minuto do segundo tempo. E nós tínhamos mais tempo para fazer um gol.
DESABAFO APÓS ELIMINAÇÃO
Não pensaram na minha família, esse é o problema. Pensaram apenas em apontar o Roberto como culpado. Pensaram em colocar o Roberto como o vilão da história, mas é tudo mentira, tudo história inventada. A minha mãe foi muito minha protetora, e ela sofreu demais, chorava todo dia. Eu ligava a televisão, ela ia lá e desligava. Ela não queria ouvir falar em Copa do Mundo. Foi a minha mãe quem me fez pensar bem em relação à seleção brasileira. Eu não queria parar, queria jogar em 2010. Ligava todo dia para minha mãe, ela lá chorando. E falei: "O quê? Parei! Não quero mais jogar na Seleção."
AMBIÇÃO COMO TREINADOR
Minha vida sempre foi de conquistas. É claro que agora, nesta nova etapa como técnico, quero começar bem. Quero continuar vencendo, e é só o começo. Sou muito amigo dos meninos, procuro ser um exemplo para eles. Não aquele treinador que, no dia do jogo, fica lá gesticulando demais para a câmera. Não gosto disso.
COMPORTAMENTO NA ÁREA TÉCNICA
Sou muito calmo, muito sossegado. Além disso, quando trabalhamos bem durante a semana, não tenho que chegar no dia do jogo e ficar gritando com os caras. Eu trabalhei bem, sei que no sábado ou no domingo o resultado vai ser o que nós fizemos durante a semana. Agora, temos que terminar bem a semana. Se o adversário ganhar, mérito dele. Nós temos que jogar bem. Quero que meu time jogue futebol e se divirta com a bola, mas que sem a bola apenas se posicione.
PROIBIDO DAR CHUTÃO
No futebol moderno, não precisamos disso. O Barcelona jogou assim, o Real Madrid na minha época jogou assim. Tudo é movimento, e quero que meu time faça isso, que não fique dando chutão para frente. Às vezes brinco com eles: "Se começar a dar chutão, vou embora. Ou do treino ou do jogo. Quero ver meu time jogar futebol." No treinamento, obrigamos até os goleiros a jogarem com o pé. Não pode pegar com a mão e jogar a bola lá na frente. Quero bola no chão. Se divirtam com a bola no chão.
TREINAR CLUBES BRASILEIROS
Ao trabalhar num clube brasileiro, você está arriscado a ser mandado embora depois de dois meses. Aqui não, aqui você tem todo um tempo, tem um ano, dois anos de contrato. Você coloca a casa em ordem, faz boas contratações, tem tempo para trabalhar. É muito difícil o treinador estar com um trabalho em risco. No Brasil, não. No Brasil, um diretor não foi com a tua cara... Então, não é assim, e eu não quero isso.
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